O dia de Ekadasi é um dia especial, em que nos lembramos do Senhor Hari. A palavra “ekadashi”, em sânscrito, quer dizer onze (11), então são contados 11 dias após os dias da lua nova e da lua cheia. Neste dia o devoto poderá optar por jejuar, pelo menos em três formas ou maneiras: 1) jejum total de alimentos e água; 2) jejum total de alimentos, mas bebendo apenas água, e 3) o jejum de grãos.
O adotar de um ou outro tipo de dieta de Ekadasi irá depender da possibilidade de cada um. Deste modo, se alguém estiver trabalhando não precisará privar-se de alimento, desde que evite grãos. Aqueles que estão num Ashrama, retirados das atividades, ou por alguma resolução de Tapas, poderão realizar o jejum total ou com água. Apesar de o jejum de Ekadasi ser um dia especial, o mais importante é a atitude devocional. Ele não tem finalidades higienistas tendo em vista uma melhor saúde, ou uma recuperação de alguma doença física ou mental , mas a manutenção da paz e da prosperidades de todos. O Ekadasi é um dia de lembrarmos do Senhor Supremo, e por isso é um dia especial.
Com certeza, há todo um grupo de alimentos e produtos que podem ser usados no dia de Ekadasi. Mas isso não é o mais importante. Entender o que o Ekadasi significa, e qual a sua abrangência é o que importa. Aconselha-se moderação. Então, inicie o jejum de Ekadasi simplesmente retirando o arroz, o trigo (e derivados), bem como o milho de sua dieta. Todas as frutas, verduras e legumes poderão ser usados. Há restrições para cebola e alho, que não devem ser usados nem mesmo fora do Ekadasi. Não use carnes, nem peixes, nem ovos. Purifique-se, porque a mente é fruto do alimento.
Há cerca de 26 Ekadasis diferentes durante o ano (dependendo do ano), e cada um deles possui a sua história correspondente. O Ekadasi que ocorre dia 02-03 de Julho deste ano (2005), é considerado Dava-sayana ou Padma Ekadasi, que a seguir descreve o Lila:
Deva Sayana Ekadasi
Do Bhavishya Uttara Purana (Padma Ekadasi)*
“O santo rei Yuddhishthira Maharaj disse: ‘Ó Keshava, qual é o nome do Ekadasi que ocorre durante o período da lua cheia, no mês de Ashadha (junho-julho); qual a Deidade que é adorada neste dia auspicioso, e qual é o procedimento para este evento?’
O Senhor Krishna respondeu: ‘Ó zeloso deste planeta Terra, Eu contarei com satisfação um maravilhoso evento histórico, que certa feita o Senhor Brahmaa narrou para seu filho Narada Muni:
Certo dia, Narada Muni perguntou ao seu pai: ‘Qual é o nome do Ekadasi que acontece durante a parte luminosa do mês de Ashadha; gentilmente diga-me como eu deverei observar este Ekadasi, e assim agradar ao Senhor Supremo, Sri Vishnu?’
O Senhor Brahmaa respondeu: ‘ Ó grande santo orador; ó melhor entre os sábios; ó devoto puro do Senhor Vishnu, sua pergunta é um exemplo muito útil para toda a humanidade. Não há nada melhor do que Ekadasi, o dia do Senhor Hari, do que qualquer outro no mundo. Ele anula mesmo os piores pecados se for observado apropriadamente. Por esta razão, eu irei dizer-lhe sobre este Ashada-shuka Ekadasi:
Jejuar neste dia de Ekadasi purifica de todos os pecados e realiza todos os desejos. Portanto, se algum negligenciar este dia sagrado de jejum, coloca-se com um candidato para as regiões inferiores. Ashadha-shuka Ekadasi é também conhecido como Padma Ekadasi. Desta forma, para agradar o Senhor dos Sentidos, o Supremo Senhor Hrishikesha, deve-se jejuar neste dia. Escute cuidadosamente, ó Narada, enquanto em narro para você um maravilhoso acontecimento histórico, relembrado nas Escrituras, a respeito deste Ekadasi. Assim escutando este Lila, serão destruído todos os tipos de reações negativas, com a devida remoção dos obstáculos do caminho espiritual.
Narayana (vishnu), repousa sobre Ananta-sesha, tendo Lakskmi-devi aos Seus pésÓ querido filho! Certa feita houve um sábio e sento rei em Surya Vamsha (da dinastia solar), cujo nome era Mandhata. Por estar sempre firmado na verdade, ele foi apontado como imperador. Ele cuidava dos seus súditos, como se fossem os membros de sua própria família e filhos. Devido a sua grande piedade e grande religiosidade, não havia doenças, seca, e qualquer que fosse coisa desagradável em todo o seu reino. Todos os seus súditos não só estavam livres de todos os tipos de distúrbios como também eram muito ricos. Seu tesouro estava livre de qualquer lucro de forma ilegal, e assim ele governou, alegremente, por muitos anos.
Certa feita, porém, devido a algumas atitudes impuras em seu reino, ocorreu uma seca por três anos. Os súditos também foram importunados pela fome. Devido a falta de grãos ficou impossível para eles realizar os sacrifícios védicos prescritos, oferecer manteigas (Ghee), para seus antepassados, bem como para os Devas; egajar-se em qualquer ritual de adoração, ou mesmo estudar a literatura védica. Finalmente, eles foram até diante do seu amável rei, numa grande comitiva, dirigindo-se a ele da seguinte forma: ‘Ó rei, o senhor sempre viu por nosso bem-estar, então estamos humildemente pedindo a sua ajuda agora. Todos, em qualquer lugar, precisam de água. Sem água, tudo irá se transformar em algo inútil ou morrer. Os Vedas chamam a água de Nara, e devido ao fato de que a Suprema Personalidade de Deus descansa por sobre a água, então Seu nome é Narayana. Deus fez Sua própria morada na água, e ali Ele descansa.
É dito que três coisas não podem existir sem água: pérolas, seres humanos e farinha. A essencial qualidade da pérola é o brilho, e ele é devido a água. A essência do homem é o sêmen, cuja maior parte é constituída de água. E sem água, não se pode fazer farinha como massa, e então ser cozida nas várias formas como pãos, e demais alimentos para serem comidos. Algumas vezes a água é chamada de Jala-narayana, o Senhor Supremo na forma de Sua vida sustentando a substância da vida: água.
Na Sua forma como nuvens, o Senhor Supremo está no céu e derrama água em forma de chuva, da qual brotam os grans e mantém cada entidade viva por sobre a Terra.
Ó rei, a severa seca está causando uma grande falta de valorosos grãos; por isso, nós estamos na miséria, e as pessoas estão decaindo porque estão morrendo, ou abandonando o seu reino. Ó melhor dos governantes por sobre a Terra, por favor encontre alguma solução para este problema, para que a paz e a prosperidade voltem novamente’.
O rei respondeu: ‘Vocês falam a verdade. Os grãos são como Brahman, o Absoluto, que é pura Verdade, quem vive dentro dos grãos, e que, portanto, sustenta todos os seres. De fato, é devido aos grãos que o mundo inteiro vive. Agora, por que esta terrível seca está ocorrendo em nosso reino? As Sagradas Escrituras falam sobre este assunto com grande propriedade. Se um rei (ou chefe d eum país), é irreligioso, tanto ele como seus súditos sofrem. Eu tenho meditado na causa do problema por um longo tempo, mas após pesquisar meu caráter passado e presente, eu posso dizer, honestamente, que não encontrei nenhuma atitude indevida. Apesar disso, para o bem de todos os súditos, eu tentarei remediar a situação’.
Pensando em que forma ajudar, o rei Mandhata reuniu seu exército e séqüito. Então prestou suas reverências para Mim, e entrou na floresta. Ele perambulou por aqui e ali, procurando grandes sábios em seus Ashramas, fazendo perguntas de como resolver a crise em seu reino. No fim, ele alcançou o Ashrama de meus outros filhos, Angira Muni, cujo brilho resplandece em todas as direções. Sentado em sua cabana, Angira mostrava-se como um segundo Brahmaa. O rei Mandhata ficou muito feliz em ver Angira Muni, cujos sentidos estavam completamente sob controle.
O rei, imediatamente, desmontou de seu cavalo e ofereceu suas reverências aos pés de lótus de Angira Muni. Em seguida, o rei juntou suas mãos e orou pedindo as bênçãos de Muni. O santo retribuiu com bênçãos para o rei, com Mantras sagrados. O rei pediu por auxílio por sete membros do seu reino. Os sete membros sob o domínio do rei eram: o rei em si mesmo, os ministros, seu tesoureiro, sua força militar, seus aliados, os Brahmanas, a realização dos sacrifícios realizados no reino, e as necessidades dos seus súditos sob o seu cuidado.
Após contar ao sábio como os sete membros do seu reino estavam situados, o rei Mandhata relatou sobre a sua própria situação, e se ele era feliz. Então, Angira Muni perguntou para o rei por que ele tinha empreendido tal difícil jornada dentro da floresta. O rei relatou da aflição que estava passando o seu reino. O rei disse: ‘ Ó grande sábio, eu estou governando e mantendo o meu reino seguindo as injunções védicas, e então não sei qual a razão da seca que está acontecendo. Para resolver este mistério, eu vim até o senhor para pedir ajuda. Por favor, ajude-me a aliviar o sofrimento dos meus súditos'.
Angira Rishi disse de pronto para o rei: ‘A presente era, Satya yuga, é a melhor de todas as eras, uma vez que o Dharma mantém todos os quatro membros: veracidade, austeridade, misericórdia e limpeza. Nesta era, todos respeitam os Brahmanas como os membros que estão no topo da sociedade. Também, cada um realizar as suas ocupações plenamente, e apenas aos sacerdotes Brahmans é permitido realizar austeridades védicas e penitências. Embora isso seja um padrão, ó leão entre os reis, há um Shudra (pessoa não iniciada ou sem qualificação), que está ilicitamente realizando os ritos de austeridades e penitências em seu reino. Esta á a razão porque não há chuvas em sua terra. Portanto, o senhor deverá punir este operário com a morte; por fazer isso, será removida a contaminação que está afligindo a todos, e assim restaurar a paz para seus súditos’.
O rei, então, respondeu: ‘Como poderei eu matar um ofensivo realizador de austeridades e sacrifício? Por favor, dê-me alguma solução espiritual’
O sábio Angira Muni, então, disse: ‘Ó rei, o senhor deverá observar jejum do Ekadasi, que ocorre durante a fase da lua cheia, no mês de Ashadha. Este dia auspicioso é chamado de Padma Ekadasi, e por sua influência, chuvas abundantes irão advir, e assim os grãos e outros frutos, com certeza, irão retornar ao seu reino. Este Ekadasi confere perfeição sobre os que o seguem com fé; remove todos os tipos de maus elementos, e destrói todos os obstáculos no caminho da perfeição. Ó rei, você, seus parentes, e seus súditos, deverão observar este sagrado jejum de Ekadasi. Então, tudo em seu reino, indubitavelmente, irá retornar a normalidade’.
Ao escutar estas palavras, o rei ofereceu suas reverências, e então retornou ao seu palácio. Quando o dia do Padma Ekadasi chegou, o rei Mandhata reuniu todos os Brahamas, Kshatriyas, Vaishas, e Sudras em seu reino, e os instruiu para cumprir estritamente a importância daquele jejum de Ekadasi. Depois de todos terem cumprido com o jejum as chuvas caíram conforme Agira Muni havia previsto. No devido curso do tempo, veio uma colheita abundante, rica em grãos e alimentos. Por intermédio da misericórdia do Senhor Supremo, Hrisikesha, o mestre dos sentidos, todos os sujeitos do reino do rei Mandhata, ficaram extremamente felizes, e a prosperidade retornou.
‘Portanto, ó Narada, cada um deverá observar este Ekadasi muito estritamente, para conceder felicidade a todos os reinos, bem como a liberação final, por sobre o devoto que tem fé’.
O Senhor Krishna, então, concluiu: ‘Meu querido Yudhishthira, o Padma Ekadasi é assim tão poderoso, que alguém simplesmente por ouvir a sua origem e as suas glórias, fica inteiramente purificado. Ó Pandava, aqueles que desejam Me agradar, deverão observar de forma estrita este Ekadasi, o qual é também conhecido como Deva-sayani Ekadasi.’
Deva-sayani, ou Vishnu-sayani, indica o dia quando o Senhor Vishnu descansou junto com todos os Devas ou semideuses. É dito, também, que após este dia, não é aconselhável realizar qualquer cerimônia, até o Devotthani Ekadasi (também conhecido como Haribodhini ou Uttana Ekadasi), os quais ocorrem no mês de Kartika (outubro-novembro), porque os Devas estão adormecidos, não podendo ser convocados para a arena de sacrifício, e porque o sol está em viagem para o seu curso no sul (Dakshinayanam)**
O Senhor Krishna continuou: ‘Ó leão entre os reis – Yudhisthira Maharaj – qualquer um que deseja liberação deverá observar regularmente este Ekadasi, o qual é o dia que o jejum de Chaturmasya inicia”.
NOTAS
* Este texto está sumarizado de “Ekadasi, o dia do Senhor Hari”, de Swami Krishna Balaram. Página 99-103.
* Isso se refere ao hemisfério norte.
Hari Om Tat Sat
Sri Swami Krishnapriyananda
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